Dos 805 eleitores de Balneário Camboriú que responderam à pesquisa da Eficaz Pesquisa e Tecnologia, contratada pelo DIARINHO, 60% se identificaram como católicos ou evangélicos. Esses grupos religiosos podem influenciar as eleições e as estratégias dos candidatos – principalmente para prefeito?

O DIARINHO convidou o mestre em Sociologia Política, Roberto Wöhlke, para analisar os dados. Entre os entrevistados, 42,7% se disseram católicos, 22,5% evangélicos, 14,4% espíritas, 6,8% ateus e 13,6% sem religião.

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“As questões ligadas ao direito à vida ganham o seu conceito e contorno mais absoluto. São pessoas resistentes a qualquer modificação que contrarie seus princípios religiosos", analisa Roberto.

O cientista destaca um ponto importante: o perfil do católico. Embora no Brasil o Estado seja laico, a tradição católica continua forte, como é possível notar pelos feriados religiosos do calendário oficial. Mas Roberto acredita que entre os eleitores religiosos, os católicos sejam mais liberais que os evangélicos, permitindo maior liberdade nas pautas de costumes. "O resultado de mais de 40% de católicos na pesquisa favorece uma flexibilização em temas como esses", afirma Roberto.

Crescimento das igrejas evangélicas e a relação política

Apesar de morar em Florianópolis, Roberto é natural de Balneário Camboriú e estudou o impacto político local. Para ele, o crescimento das igrejas evangélicas na cidade é evidente. "Isso permitiu que as duas últimas candidaturas do atual prefeito, Fabrício Oliveira (PL), fossem viabilizadas", avalia. Ele lembra que Fabrício saiu de um partido progressista, o PSDB, e converteu-se a uma plataforma política que se alinha à tradição conservadora da cidade.

Segundo Roberto, em Balneário Camboriú a maioria dos evangélicos não faz parte do que os estudiosos chamam de "mais vulneráveis", grupo geralmente mais suscetível à flexibilização eleitoral por necessidades econômicas. “Em BC, o público evangélico é mais conservador, de alta renda, o que explica o perfil político da cidade, sempre marcado por pautas conservadoras”, pontua.

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Tendência conservadora pela idade

Na pesquisa encomendada pelo DIARINHO, 68% dos entrevistados têm entre 25 e 60 anos. Para Roberto, essa faixa etária tende a adotar posições conservadoras, o que cria um ambiente propício para estratégias eleitorais que evitam temas polêmicos, como aborto ou descriminalização das drogas. “Isso se reflete na perda de importância de pautas como educação e saúde, dando lugar a debates sobre costumes”, analisa.

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Roberto exemplifica com o tema da educação, afirmando que problemas estruturais nas escolas são frequentemente desviados por discursos que atribuem a culpa a “professores doutrinadores” ou a teorias marxistas. "A pauta de costumes acaba diluindo os reais problemas estruturais, prejudicando o debate público", conclui.